quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"LEVANTA-TE E ANDA. A TUA FÉ TE SALVOU"

Se acompanharmos a narrativa de todo o capítulo 17 de evangelho de Lucas encontraremos em seu verso 5 o clamor dos discípulos à Jesus, nestes termos: “aumenta-nos a fé”. Desenvolvendo-se a partir daí uma reflexão sobre a importância da fé na vida do crente. No trecho indicado pelo Calendário Liturgico para o 20º Domingo depois do Pentecostes Lc 17,11-19 vemos o que a fé pode conceder a um crente. Esta fé é comunhão plena com Deus, o que envolve oração, dedicação de vida e de dons, e essencialmente ação de graças, no sentido de que tudo que temos e que somos é de Deus, Ele nos deu gratuitamente e, portanto, devemos elevar sempre o nosso louvor a Ele.

Acompanhemos a narrativa indicada. Jesus está à caminho de Jerusalém, um grupo de dez leprosos ao vê-lo passar clama em alta voz: “Jesus, Mestre, compadece-te de nós”. Jesus os envia ao sacerdote, pois ele como autoridade religiosa poderia reintegrá-los a sociedade, é claro, se estes estivessem curados – pois lepra era considerada uma doença com teor religioso, ou seja, castigo de Deus.  No caminho todos são purificados, Deus atende seu clamor e concede-lhes a cura. Mas, algo no mínimo estranho, acontece depois. Somente um volta correndo à louvar e bendizer a Deus, rendendo graças por ter alcançado a benção. Jesus ao vê-lo pergunta “não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove?” Poderia o curado ter respondido em uma em tom de humor – já ganharam o que queriam agora não precisam mais de Deus, ou seja, quando por causa de sua doença foram excluídos da sociedade, enfrentando dor, fome, e muitas outras atrocidades se lembraram de Deus e a Ele clamavam por compaixão, mas depois de alcançarem a cura voltam a viver, esquecendo-se de Deus.

Na seqüência da narrativa do evangelho aparece outro fator importantíssimo. Este homem que recebeu a cura e voltou para agradecer a graça recebida era um samaritano. Fazia parte de um povo visto pelos judeus como descrente, pecador e fora da possibilidade de receber a salvação. Mas embora, sendo samaritano ele demonstra ser alguém muito temente a Deus, e neste caso muito mais que os judeus, tidos como crentes verdadeiros, povo eleito. Isso nos leva a concluir que a salvação através de Jesus vem para toda a humanidade, não somente para um povo específico, e ainda, que muitas vezes aquelas pessoas que a princípio são condenadas por nós, ditos crentes, são as verdadeiras herdeiras da salvação. Quantas vezes julgamos aos outros e afirmamos sem nenhum constrangimento que está ou aquela pessoa é pecadora, que está ou aquela pessoa é isto ou aquilo, mas o que devíamos fazer sim é ver como nós estamos andando e nos portando tendo como regra os ensinamentos de Jesus. Estamos fazendo nossa oração diária? Estamos indo aos cultos – momentos de oração comunitária? Tenho tratado com amor e respeito a todos que se achegam a mim? Fé não é uma questão de conteúdo técnico-teológico, não é uma questão de somente ser ou não sócio de uma igreja e, sim de comunhão com Deus. Essa comunhão se percebe no jeito de ser e de viver da pessoa, destacando-se gestos de humildade, doação ao próximo, devoção espiritual - com oração particular e freqüência aos cultos, em síntese em sua vida de amor/comunhão para com Deus e com os irmãos.

A afirmação final de Jesus neste trecho do evangelho me parece central: “levanta-te e vai; a tua fé te salvou”. Aquele clamor dos discípulos de Lc 17,5 ganha mais valor ainda, pois se a fé é a garantia, a causa da salvação, devemos clamar diariamente à Deus para que ele nos aumente a fé, pois sem ela nada somos e nada podemos. Sem fé não chegaremos a lugar algum no caminho da salvação. Esta afirmação de Jesus também nos deixa claro que a salvação não vem por intermédio de uma pessoa, seja ela um bispo, um pastor ou padre. Estes sim desenvolvem um papel importante de inspiradores e desenvolvedores da fé, mas mesmo assim como instrumentos nas mãos de Deus, pois é dele que procede a benção, é Deus o autor da salvação.

Diante deste evangelho poderíamos refletir a partir de algumas questões: Ao estarmos em uma situação de sofrimento e dor nós clamamos a Deus e Ele sempre nos atende, mas nos lembramos em elevar a Ele nosso “muito obrigado Senhor”? Me lembro de Deus somente quando estou em dificuldades ou Deus é uma constante em minha vida? Tenho alimentado minha fé com orações particulares e a ida aos cultos ou só procuro quando enfrento algum problema?

Que Deus Senhor nosso, tenha misericórdia de nós e nos aperfeiçoe no caminho do bem, para que assim alcancemos a salvação.


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