terça-feira, 29 de dezembro de 2009

DAS TREVAS PARA A LUZ

Antônio Ryscak+

Estamos vivendo mais uma vez o clima de Natal, mas para não correr o risco de nos afastarmos de seu verdadeiro significado vamos, baseados nas Sagradas Escrituras, fazer algumas afirmações sobre a vida do povo de Deus antes e depois do Nascimento de Jesus. E desta forma teremos uma melhor compreensão da importância da manifetação da Glória de Deus através do Menino de Belém.

Primeiro algumas palavras sobre o nosso princípio: “No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo...”(Gn 1,1-2). Essa realidade de caus foi transformada em Paraíso, e foi nessa realidade que o Ser Humano foi colocado. Mas por opção própria, por desobediência, pela vontade de ser um deus, senhor de si mesmo o Ser Humano deixa-se envolver pela tentação e o pecado passa a existir. A partir daí, o mal é uma realidade.

O povo de Deus vivia sobre as trevas, mas Deus não nos deixou sós. Não nos abandonou e passa a projetar inúmeras ações para fazer com que o ser humano voltasse atrás em sua decisão. Ações que levassem o ser humano a conversão, ou seja, a mudança de vida. Como Deus, não tinha como pegar o ser humano pela mão e tirá-lo do caminho do mal e colocá-lo no caminho do bem, pois assim estaria contrariando a sua decisão de nos constituir possuidores de livre arbítrio, passa a enviar mensageiros para nos convencer de que o caminho do bem é que nos leva a plenitude de vida.

E foi em meio a grandes desafios e muito sofrimento enfrentado pelo Povo de Deus, um ser humano inspirado por Deus, chamado Isaías, passa a anunciar uma realidade diferente, a possibilidade de uma vida nova. Um destes anúncios ouvimos na primeira leitura de hoje(Is 9,2-7): “o povo que andava em trevas viu uma grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz” (Is 9,2). Isaías também fala em quebrar o jugo que pesava sobre nós. Uma realidade de caos, de sofrimento e de guerra passa a ser governada pelo príncipe da Paz. A esperança, na vida do povo de Deus, renasce. A paz sem fim pode ser uma realidade.

Mas de cara, algo nos chama atenção, essa paz duradoura não vem através de um guerreiro, um rei poderoso que vem liderando um exército armado. Não. Essa paz duradoura vem através de um menino, através de uma criança.

Depois de ter enviado inúmeros mensageiros para nos chamar de volta ao caminho do bem e ver que o ser humano permanecia, em sua teimosia, deixando-se levar pelo mal, resolve vir a nós em pessoa. Jesus é para nós o Emanuel, “Deus Conosco”. Deus que assume nossa natureza para assim, nos ensinar através do seu jeito de viver e através de sua Palavra, como podemos viver livres trilhando pelo caminho do bem. Pois, Jesus, embora tenho sofrido tentações, não se deixou levar, não se deixou desviar do caminho verdadeiro e não pecou. E não usou de sua condição de Deus – Ele viveu como um de nós – Mas, podemos nos perguntar: como isso é possível? Para compreendermos essa realidade devemos olhar para a vida de Jesus. Inúmeras vezes vemos através dos evangelhos, Ele saindo para um lugar a parte para orar, para conversar com o Pai, e da mesma forma como em inúmeras passagens vemos Jesus se dirigindo ao Templo ou a Sinagoga, lugar de oração comunitária. A oração individual e comunitária era uma realidade na vida de Jesus. A oração era a maior demonstração da comunhão entre Jesus e seu Pai, e essa comunhão era o que fazia com que Ele permanecesse firme em seu caminho, em sua missão. Seguindo seu exemplo somos chamados a reforçarmos cada vez mais a nossa comunhão com o Pai e é dessa forma que nos manteremos firmes na sua vontade.

No Menino de Belém, a graça de Deus se manifesta a todo o povo. A salvação é uma possibilidade a todos nós. É nessa altura de nossa reflexão que pode surgir mais um dúvida: Se a salvação veio a nós através de Jesus, porque ainda existe sofrimento, dor, tristeza?

Para responder a essa dúvida devemos nos lembrar do texto da epístola de São Paulo a Tito. Ele nos fala que a “graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens educando-nos para que renegados a impiedades e as paixões mundanas, vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2,11-13). A graça manifesta em Jesus veio para nos educar e capacitar para a manifestação plena da glória. Ou seja, na sua primeira vinda Jesus dá início ao processo de salvação da humanidade e a plenitude desta salvação acontecerá na sua segunda vida, no fim dos tempos, como Ele mesmo nos garantiu. A respeito disso algumas palavras são necessárias, pois inúmeras afirmações errôneas são feitas. Segundo minha fé, esse fim dos tempos que Jesus nos fala não é o fim do mundo, fim da humanidade e o pior é afirmar que Deus seria o autor deste acontecimento, nisso eu não acredito e tenho certeza que nenhum dos meus colegas que tem muitos anos a mais de ministério do que eu, acredita. O que Jesus fala é na plenitude dos tempos, ou seja, a realização plena da salvação. Uma realidade de paz duradoura, onde Deus será o nosso único Senhor, onde purificados de nossas iniqüidades viveremos definitivamente em seu Reino.

A boa nova de grande alegria para todo o povo, anunciada pelo anjo aos pastores, é essa: a graça de Deus se manifestou em Jesus e é essa graça que nos conduz a manifestação da Glória de Deus, nos conduz a vida plena em Deus. Portanto, deixemos que luz do natal que nos vem através de um menino/de uma criança, reacenda em nós a esperança de uma vida plena. E que esta luz nos aperfeiçoe para que estejamos preparados para a manifestação dessa realidade, na plenitude dos tempos.

Tendo em mente as grandes maravilhas que Deus tem operado a nosso favor, o que temos de afirmar, hoje e sempre, com toda a força, com toda a energia, juntando-nos com o coro celestial é:

“GLÓRIA A DEUS NA MAIORES ALTURAS, E PAZ NA TERRA ENTRE OS HOMENS A QUEM ELE QUER BEM”

Que Deus nos abençoe e aperfeiçoe. Amém.

Sermão proferido nos cultos de Natal da Matriz do Crucificado de Bagé e Paróquia do Natal em Dom Pedrito.

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